No aeroporto de Lisboa, adolescentes de várias etnias juntam as suas vozes num coro em que se destaca uma palavra: “Freedom”. Querem alertar quem passa para o drama da mutilação genital feminina. Dançam e cantam com um único objetivo: consciencializar adultos e crianças que essa mutilação é crime. Garantir que quem parte num avião de Lisboa, Porto ou Faro para a Guiné Bissau, para o Mali, para o Gana ou para o Senegal tem consciência disso e se afastará dessas práticas.
Com aquele espetáculo marcou-se a primeira etapa de uma campanha de sensibilização que o Governo português, ancorado na secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade, lança este verão. Ao longo dos próximos meses serão distribuídos folhetos em cada aeroporto, na zona de embarque, para alertar para este tipo de crime. Conscientes de que “as férias são um momento de alto risco, altura em que as famílias viajam para os seus países de origem onde a prática ocorre”, como lembra o ministro Adjunto Eduardo Cabrita, o Governo quer evitar que muitas meninas regressem com memórias traumáticas.
Fatumata Djau Baldé Presidente do Comité Nacional para o Abandono de Práticas Tradicionais Nefastas à Saúde da Mulher e da Criança, na Guiné-Bissau, está ali ao lado do ministro e reconhece as suas palavras. Tem sido o rosto da luta contra a mutilação genital feminina. Garante que o segredo está na “escolarização”. Porque “se investirmos na escolas e conseguirmos passar a mensagem de que é preciso dizer Não a esta prática (…) dentro de uma geração ela acabará”. Eleva a sua voz para defender o direito das mulheres “à saúde sexual e reprodutiva” e acredita que se cada um conseguir convencer outra pessoa “amanhã será um dia de maior alegria para as meninas poderem gozar dos seus direitos sem nenhuma dor ou constrangimento”.